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segunda-feira, maio 4

Vagabundo? Opa, pera lá...



"Você só quer saber de tocar nessa banda de rock e encher a cara, você é um vagabundo!"
"Acorda vagabundo! Já é meio dia!"
"Vai arrumar alguma coisa pra fazer, seu vagabundo!"
"Sai desse computador, seu vagaba!
"Seu faz-nada, vai ficar aí lendo esses livros idiotas até quando?"

Essas frases são só um pequeno exemplo do que escuto frequentemente aqui em casa sobre minha "vagabundagem". Tá, eu admito, sempre tento fazer as coisas do jeito menos trabalhoso, mas isso não é ser vagabundo, é ser esperto. Só estudo, não trabalho, não tenho nada que formalmente ocupe muito meu tempo, adoro passar parte do meu tempo fazendo aquilo que chamam de "porra nenhuma" e que prefiro nomear de "ócio intelectualmente produtivo". Por outro lado, discordo com qualquer um que venha me dizer que vida de vagabundo é vida fácil. E porque afirmo isso? Vamos lá...



Voltando à primeira frase do post, especificamente a parte destacada em negrito: "Você só quer saber de tocar nessa banda de rock e encher a cara, você é um vagabundo!".

Por mil e dois caralhos voadores indo na cara da vossa mãe, quem é o imbecil que acha que tocar em banda de rock é coisa de preguiçoso? Músico pode ser tudo menos preguiçoso. Já viu o monte de tralha que é necessária pra tirar um som? Instrumento, no meu caso um baixo pesado pra caralho, um amplificador que parece um frigobar, meia dúzia de pedais, fontes, cabos, entre outras coisas. Imagine que essas coisas pesam pra caralho e mesmo levando pros lugares de carro, é cansativo pra porra levar pro carro, tirar do carro e sem contar com instalar toda essa quinquilharia no local da jam.

Certo, foi-se o ensaio com a banda, você chama os amigos, vai prum bar e toma umas cervas pra relaxar, a parada se prolonga noite a dentro e você chega em casa amanhecendo e pretende dormir pelo menos até o meio dia. Você tá naquele repouso quase sublime, tendo um sonho erótico com sua vizinha gostosa num sono pesadão, quando alguém entra no quarto e abre a porra da janela, com o sol na sua cara você acorda ao som de gritos de "Vagabundo desgraçado!".

Puta que o pariu! Que obrigação super importante que eu tenho pra fazer num domingo de manhã? Pior de tudo é que exatamente dois segundos depois de ser acordado você começa a sentir os primeiros efeitos da ressaca, daí a coisa fica infernal.

Certo, não concordo em ignorar as obrigações que todos nós temos pelo simples intuito de fazer nada. Isso aí já é falta de responsabilidade. Mas qual o problema de ficar de pernas pro ar quando não se tem mais nada pra fazer? Isso irrita quem tem um monte de coisas pra fazer e está te olhando sem fazer merda nenhuma, rola uma invejinha. Puta merda, me deixa em paz e cuida da tua vida!

Falei em ócio intelectualmente produtivo no comecinho do post. Bom, eu explico. É cientificamente comprovado - e endossado pelos exemplos históricos - que quando não está fazendo nada que se têm as melhores idéias, as melhores sacadas pra qualquer coisa que seja. Nessas horas em que num se está fazendo nada o nosso cérebro não trabalha do jeito funcional que nossa vida moderna nos obriga a pensar. Imagina o Chaplin no clássico Tempos Modernos enquanto tá na linha de produção. O cérebro dele é 100% aperta-gira-bate-torce-retorce. Quando não estamos fazendo nada o cérebro nos faz divagar, nos faz viajar.

Exemplo clássico: Arquimedes, tomando banho de banheira, descobriu uma forma de calcular o volume de qualquer objeto, imergindo tal objeto num recipiente contendo água e calculando a alteração na altura da água, chamado de Princípio de Arquimedes. Nesse momento ele gritou a frase célebre "Eureka!". Quantos não fizeram uma lâmpada acender sobre suas cabeças num momento desses? Quantos não tiveram idéias geniais sentados num vaso sanitário?

Isso é ócio intelectualmente produtivo.

Ficar no computador até altas horas da madrugada também não tem nada de vagabundagem. No meu caso, uso o computador pra muitas coisas úteis e produtivas. Faz tempo que num preciso ir na biblioteca da universidade pra pesquisar alguma coisa, tem quase tudo na internet. Não curto muito telejornais, prefiro me informar usando a internet também. Não vou me aprofundar no potencial da internet, todos sabemos que é um ferramenta magnífica.

E até mesmo a vagabundagem na sua essência é coisa complicada de se fazer. Imagina como deve ser trabalhoso conseguir se livrar de todos os afazeres diários? Como o malandro que dá desculpa pra alongar o horário de almoço do trabalho e o moleque que mata aula. Conseguir isso demanda esforço mental e físico.

Na maioria das vezes, pessoas como eu são chamadas de vagabundos erroneamente. E não estou tirando o meu da reta, como admiti acima, sou vagabundo mesmo. Mas acreditem, ser vagabundo é trabalhoso pra caralho!

Um comentário:

  1. Viva ao ócio. Mesmo que seja fictício, quando as tarefas estão gritando por socorro... hahaah

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